O Café com o Brumado Agora entrevista o ex-goleiro Marlon Viana



O entrevistado de hoje do Café com o Brumado Agora é um dos ícones do futebol brumadense. Exímio goleiro, Marlon Ney Souza Viana nasceu na Vila de Catiboaba, em Brumado, em 22 de novembro de 1965. O filho de Dahir (Dona Nininha) Souza Viana e Sebastião Viana Cardoso teve oito irmãos, e com apenas 17 anos partiu para o Rio de Janeiro, onde fez um teste, e passou, para o time de base do Flamengo. Casou-se com Mabene Coutrin Viana, em 18 de janeiro de 1994, com a qual constituiu família e teve as filhas Mabriza e Melissa. Infelizmente, o ex-goleiro da Seleção Brumadense de Futsal, sofreu um infarto na tarde do dia 1º de maio deste ano. No entanto, esta adversidade não abateu o Tricampeão Baiano de Futsal que está se recuperando muito bem e em estado progressivo de saúde. A história deste grande esportista será contada em uma entrevista realizada nas dependências da Padaria Pérola, em Brumado. Confira.

 

 

Café com o Brumado Agora – Conte-nos um pouco da sua vida antes do ingresso no futebol.

 

MarlonNa verdade, acho que sempre estive no futebol (risos). Nasci na Vila de Catiboaba, uma Vila Operária e que respirava esporte, principalmente o futebol. Minha vida era muito boa, tinha tudo que um jovem precisava: uma boa família e o esporte. Minha família era grande, tinha oito irmãos. Naquele período as famílias eram assim grandes, com seis a dez filhos em cada uma, e com isso a integração entre nós era muito grande, vivíamos em uma comunidade muito dinâmica. Na vila tínhamos um “senhor campo” de futebol e ainda outro society, onde nos divertíamos. Havia ainda o Clube da Magnesita onde havia prática de judô, tinha cinema, sinuca, pingue pongue, e hoje, infelizmente, virou um depósito de refratário. Naquela época, a Magnesita investia muito em esporte, vinham muitos jogadores de fora, de Minas Gerais principalmente e outras regiões. Lembro que nesta época a Magnesita trouxe jogadores como Moisés, Zeca, Osias, e ter contato com estes grandes nomes foi muito importante para nós que, ainda muito jovens, já jogávamos muito futebol. Então, na minha infância e adolescência, a maior parte do tempo era assim, da escola para casa e de casa para os campos, onde passávamos o resto do dia jogando futebol, lembrando que meus pais nunca foram ligados ao esporte, mas não interferiam na prática.


Café com o Brumado Agora - Com 17 anos, você foi convidado a fazer um teste no Flamengo. Como foi esta experiência tão jovem?


Marlon Frankilin Dias, que era sócio do Clube de Regatas do Flamengo, acompanhava os jogos de salão dos quais eu participava aqui em Brumado. Eu não sabia disso, e em uma tarde, ele foi até a minha casa, falou com minha mãe sobre o meu desempenho como atleta e perguntou a ela se me deixaria ir para o Rio de Janeiro fazer um teste no Flamengo, que ele arcaria com os custos da viagem. Apesar de não ser ligada ao esporte, ela não interferiu e me deixou ir. Eu não imaginava a dimensão que era fazer este teste. Ao chegar a Gávea, em fevereiro, praticamente não havia vagas, pois a peneira do Flamengo era feita de dezembro a janeiro. Então, Frankilin conversou com o Diretor Álvaro e pediu uma chance para mim. Então ele conseguiu com o treinador Carlinhos um teste em Vargem Grande, onde participei de uma peneira pelo time juvenil. Fui feliz no teste e passei a integrar a equipe e treinar na Gávea. Com um ano assinei um contrato chamado de ‘Contrato de gaveta’. Foi maravilhoso, imagine o que é um garoto sair de Brumado, fazer um teste e passar no Flamengo, como goleiro, que é uma posição tão difícil, pois por melhor que você seja, para ter uma oportunidade, tem que batalhar muito. Fiquei um ano no Juvenil, até conquistamos o vice-campeonato carioca contra o Fluminense, e ainda 2 anos no time Júnior, onde conquistamos o campeonato sobre o Vasco. Daí, no 1º ano no Júnior sofri uma lesão no menisco, foi difícil, lesionado, tendo que me recuperar e ainda tentando treinar para sobreviver no time, pois toda semana chegam jogadores novos e com a quantidade de goleiros que tinha, eu precisava me sobressair. Foi aí que devido a concorrência eu decidi tentar partir para outros times.




Café com o Brumado Agora – Foi daí que você tentou uma vaga no time do São Paulo?


Marlon Sim foi. Parti sozinho para São Paulo, e lá tive parentes que me direcionaram para o teste. Logo de cara tive um problema, o fator idade, eu já estava no último ano do Júnior, um passo para o profissional, e os garotos que já estavam nesta fase no São Paulo já tinham muito tempo de casa. Treinei, consegui boa avaliação, mas eles já tinham dois goleiros da casa. Para que eu ficasse, teria que um deles sair. Para isto, eu tinha que ser mais que “muito bom”, tinha que ser excepcional. Então me sugeriram o Time Descalvado, um time da terceira divisão da cidade de São Paulo. Fui emprestado pelo Flamengo, porque ainda tinha o vínculo contratual com o time. Joguei por um tempo e depois fui para Salvador. Neste período, o Flamengo não me chamou de volta, e o Time Descalvado me chamou agora o time estava bem mais estruturado, desfiz meu contrato com o Flamengo e fui para São Paulo. Com o Descalvado fui campeão da terceira divisão e ainda defendi três pênaltis na final. Depois disso, joguei por um ano no Time União Agrícola, do Santa Bárbara do Oeste, na 2ª divisão. O time demostrou o interesse em mim, mas o Descalvado cobrou um valor muito alto pelo meu passe, na verdade ele não queria me liberar, inclusive tive até um atrito com o presidente do time.


Café com o Brumado Agora – Em 1988, você retornou a Bahia e no final de 1989 veio para Brumado. Contes-nos sobre esta fase.


MarlonIsso. Voltei e fiz um teste no Time Catuense. O problema foi que o meu passe estava preso, ainda no Time do Descalvado, que não quis me liberar, não participava de nenhum campeonato e ainda cobrava um valor muito alto no meu passe, justamente para impossibilitar a transação. Eu não tinha um procurador para resolver este problema  e , por isso, parei de jogar profissionalmente aos 22 anos de idade, porque não conseguia me desvincular do time em São Paulo. Então, voltei para Brumado e fui trabalhar na Magnesita, onde trabalho há 24 anos. Na Magnesita tive a oportunidade de continuar no esporte e não larguei o futebol. Entrei para o Magnesita Esporte Club e paralelo me envolvi com o Futebol de Salão, através de Hosannah. Com o Futebol de Salão, conquistei três Campeonatos Baianos e quatro Jogos Abertos do Interior, já com a Magnesita foram sete títulos. O último título que conquistei antes de parar de jogar foi com a seleção de Ibicoara. Na época, se respirava esporte em Brumado, aconteciam olimpíadas que movimentavam empresas, academias e toda a comunidade.



Café com o Brumado Agora – Você ressaltou que naquele período se “respirava” esporte em Brumado. O que você acha que mudou esta realidade?


Marlon - Os grandes ícones do nosso esporte foram literalmente “enterrados”. Zitinho, Genival, Hosannah, Hernani Pinho, por falta de incentivo, não conseguiram dar um suporte maior ao nosso esporte, falo não só do futebol, como as demais modalidades também. Todos estes são formadores de opinião e contribuíram para a formação de personalidade de muitos jovens. Não posso deixar também de lembrar do Zé Veraldo, que faz um lindo trabalho com jovens que tem sérios problemas sociais, Ele dá uma esperança a estes jovens através do esporte. Temos que entender que o esporte não é só competição e prática e sim socialização.


Café com o Brumado Agora – Do que precisa o esporte brumadense?

MarlonBom senso. As pessoas tem que deixar as diferenças de lado. É necessário que seja criada em Brumado uma Comissão do Esporte, que atenda a cada modalidade esportiva de forma específica, com um calendário de esporte fixo com campeonatos voltados para cada modalidade esportiva. Iríamos acabar com vários problemas sociais, incluiríamos os jovens no esporte através de projetos sociais, os tiraríamos das drogas, do crime, do ócio e os socializaríamos. Repito, há verbas para isso, falta bom senso.




Café com o Brumado Agora - O que o esporte trouxe para sua vida?


Marlon - O esporte fez parte da minha formação, junto com os ensinamentos passados pelos meus pais, sobretudo pela minha mãe. Deparei-me com muitos obstáculos, coisas boas e ruins, mas o esporte me fez crescer. Sinto-me realizado no esporte, profissionalmente, tive muitas alegrias ao longo de toda minha vida. Eu pretendo ainda, de acordo com minhas limitações e minha recuperação, fazer um trabalho social esportivo com jovens, acompanhando-os, passando um pouco da minha experiência de vida como atleta.


Café com o Brumado Agora – Gostaria de deixar alguma mensagem aos brumadenses?


MarlonPratiquem esportes, procurem ter uma vida saudável, sem vícios. Eu senti na pele o que é uma vida sem esportes. Esporte faz parte da qualidade de vida, seja em qualquer modalidade: esportes abertos, caminhadas, academias, toda movimentação saudável faz bem ao corpo e a mente.


Fotos: Wilker Porto, Produção: Genival Moura e Reportagem: Janine Andrade.


Comentários
  • Anderson

    Marlon, um exemplo como pessoa e atleta.

  • Everaldo Vieira Dos Santos

    Estou certo que foi a melhor homenagem que o brumado agora já prestou, por se tratar de uma pessoa muito boa e um dos principais nome do esporte Brumadense.

  • zélia aragão silva araújo

    Muito boa a entrevista com esse ex-atleta brumadense! gostei das suas colocações quanto à criação de associações que possam valorizar e apoiar os jovens que hoje vivem à mercê das drogas, do crime e de tantos malefícios que os prejudicam. cabe, portanto aos gestores, "acordarem" para essa problemática. sou brumadense (morando em outra cidade) e ficaria feliz sabendo que Brumado voltou os olhos para os jovens!

  • zélia aragão silva araújo

    Muito boa a entrevista com esse ex-atleta brumadense! gostei das suas colocações quanto à criação de associações que possam valorizar e apoiar os jovens que hoje vivem à mercê das drogas, do crime e de tantos malefícios que os prejudicam. cabe, portanto aos gestores, "acordarem" para essa problemática. sou brumadense (morando em outra cidade) e ficaria feliz sabendo que Brumado voltou os olhos para os jovens!

  • Thayse Machado

    Parabéns ao Brumado Agora pela bela homenagem a essa pessoa de tão bom caráter, exemplo de pai, esposo, amigo e acima de tudo referência aos atletas brumadenses!! Que Jesus continue o iluminando sempre!!!

  • lei da play video

    Marlon juntamente com outros grandes atletas foram responsáveis por grandes motivos de alegria em minha vida, jamais esquecerei as partidas realizadas pelo campeonato baiano com três títulos conquistados, a pressão do ginásio em Brumado, no clube social e em Ibiassucê era coisa de doido, a impressão que se tinha era de estar em um estádio de futebol, inesquecível, uuuuuuh terere.

  • Claudio Mangieri

    Gostei, velho Tom! História bem contada, com riqueza de fatos e uma visão muito boa do que o esporte pode proporcionar em benefícios sociais, tanto para as pessoas quanto para as comunidades! Um grande abraço, com o desejo de que a recuperação tenha continuidade. Aliás, meu caro, o seu semblante mostra aqui que a coisa está indo muito bem.

  • marcondes gomes de souza

    é um orgulho imenso poder chamar esse grande atleta de amigo ; parabéns marlon; vc merece tudo de bom

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